sexta-feira, 3 de abril de 2015

O assunto que interessa

Houve uma comoção geral.

Todos os passantes, pararam de passar, pra olhar toda aquela movimentação.

O jornal dava a notícia de que haviam morrido dois.

Daí a pouco, todos saíram, contando sua história particular, e como teria evitado tal acidente, porquê sim, todos já tinham a resposta para tudo.

Mas resolveram sair aos poucos, porque afinal a vida continuava, junto com as contas.

Só ficaram os que realmente teriam que, de algum jeito, resolver o problema que tinha se instalado.

Passou-se aí um quarto de um dia completo, massante, extenuante.

A polícia ainda não tinha por completo ciência do que realmente havia acontecido, nem seus motivos, nem seus mortos, se conheciam.

Do outro lado da cidade, uma senhora se preocupava com seu neto.

Ele havia saído com uns amigos, iria se divertir, mas o rapaz disse que voltaria naquele dia sem falta, pois tinha prova na faculdade dia seguinte e por isso teria que voltar, disse.

Houve nova apuração, uma recontagem dos destroços mostrava que a conta de mortos estava errada, e que haviam mais dois, totalizando quatro.

Um repórter, de um jornal sensacionalista, que por dentro - e ninguém poderia descobrir isso - gostou do acontecido, pois vivia deles, mas não estava muito feliz porquê manchete boa, para ele, tinha que ter algum famoso, aí a notícia bombava dias, e ele passava a semana só naquele assunto, era ótimo porquê tinha ibope e matéria garantidas, sem ter que efetivamente trabalhar muito pra isso, já reportagens pequenas como essas, duravam apenas um, no máximo dois dias.

Foi atrás de saber quem tinha perdido a vida naquele passeio, quem era sua família, qual era sua história, afinal ele precisava apresentar algo, uma novela (como dizia), já que falar do acidente em si, todos falavam, precisava de algo a mais, precisava de uma novidade.

Ouviu um "zumzumzum" de que parecia que o filho de alguém importante estava no acontecido, parece que como os outros, tinha morrido, parecia ser um jovem, bem apessoado, de família abastada.

Os policiais, depois de longa investigação sobre quem era a vítima mais recentemente descoberta, sentenciou: "é o filho do vereador Epaminondas.

Confirmado.

Uma avó, senhora de alta classe, chorava copiosamente enquanto ouvia, pela televisão, a nova descoberta.

Quando chamaram ao telefone da doce senhora, ela se pôs a informar que já sabia. Do outro lado da linha, uma voz - quase feliz- , pedia uma exclusiva, afinal o Brasil precisava conhecer o filho, o neto e a grande pessoa que se retirava da vida, tão bruscamente.

O repórter, finalmente tinha matéria para umas boas semanas, se soubesse extrair cada pormenor, estava pois com seu ibope garantido.

O rapaz, o mais novo exemplo da nova sociedade agora, era pouco mais de um moleque e fazia as coisas normais da idade, nada de espetacular, nada que merecesse maior atenção, era até bastante teimoso e dado a só fazer o que bem entendesse, e sabia o que não queria (como o pai tanto pedia), ingressar na política, não era pra ele.

Com o novo fato, o da morte, a notícia cresceu, exponencialmente, tomando agora, ares de luto resplandescente, um luto de uma celebridade que iria fazer falta àquela sofrida população.

Aquele repórter tinha enfim sua famosa vítima, e a trabalhou tanto, que até quem não o conhecia, já o tinha como ídolo, e muitos por isso, até começaram a pensar em entrar para a política.



segunda-feira, 22 de março de 2010




Ela estava lá, somente de calcinha, olhando displiscentemente a janela, fumando um cigarro preguiçosamante, por que sabia que só quem poderia olhar ela, seria aquele mar azul, como o céu, calmo como ela própria.
Era já final de tarde, e o sol, já se mostrava cansado, querendo ir se deitar, e a lua, espevitava, já dava as caras, devagar, sorrateiramente, para tomar conta da noite, a noite toda!
Ele, deitado, apenas coberto pelo fino lençol branco, a olhava espantado.
Afinal - disse ela se virando a ele, em três quartos, aparecendo um ventre esbelto, mostrando apenas o perfil de seus seios pequenos e redondos, com os cabelos quase negros de brilho castanho, escorregando pelas costas, um perfil perfeito, os olhos, o mirando, dando um sorriso de soslaio - Por que tanto espanto, somos amigos apenas, foi bom, mas é só. O que queria? - Disse agora se virando toda de frente, mostrando seu olhar, agora por completo. - Paixão? Amor? - e sorriu gostosamente, como se tivesse ouvido uma boa e sutil piada. - Querido, sabemos que isso não existe, claro, a gente se dá muito bem, mas isso não significa que ouvimos sinetas dos anjos cada vez que nos vemos, a gente sabe que é sexual, gosto de voce, além disso é claro, voce é interessante e tem boas idéias, boa cabeça, voce ja disse o mesmo de mim, mas o que nos trouxe até esse quarto, senão o desejo puro e simples? Querido, o mundo se move por sexo, até se mata por isso! Claro, que nem todos admitem, 90% da população, creio, e se voce só contar a população feminina, então esse nimero sobe para uns 99%, eu fico com os um por cento... Nova risada - Claro, ja sofri e muito com isso, era chamada de devassa, depravada, e meus amigos, de poderosos. Enfim, não sejamos falsos conosco, afinal é só isso o que se quer aqui, não há confusões, e a amizade anda bem assim, voce tem a sua vida, eu tenho a minha,... - parou de falar, o cigarro informava que ja era hora de ascender outro, foi o que fez, andando pelo quarto, com o molejo de uma pantera negra, em plena caça, foi pra comoda, recostou-se lá, ascendeu, tranquilamente outro cigarro, oferecu-o ao amigo, que mudo, disse não.
Somos felizes assim, somos solteiros, livres, e claro, quando voce se ligar a  alguem, essa parte da nossa amizade acaba, e eu sei que se eu me ligar a alguem, voce faria o mesmo, mas agora, pra quê mudar o que está bom! Querido, voce confundiu as emoções, e isso é bem comum, por isso as pessoas se enganan tanto, achando que sofrem por amor, mas a gente sabe, que não é isso, é um conjunto de fatores, nos damos bem, na transa somos ótimos juntos, temos assunto pra conversar, até os mesmos interesses... mas isso não significa amor, isso significa só isso mesmo, uma boa amizade, e se vc é homem e gosta de mulher, e eu sou mulher e gosto de homem, e eu te atraio, e voce me atrai, qual o problema de também temos o sexo para pontuar a nossa relação? Eu não vejo nenhum problema. Ai, ai... mas que voce hoje me cansou cansou, vou tomar um banho demorado, naquela banheira maravilhosa, voce vem? - Ela acabou assim o assunto que o outro havia começado.
Estava ele, perdido em seus pensamentos, será que ela tinha razão, será que ele estava realmente só pelo interesse físico, será que havia mesmo toda uma miscelânia de coisas que davam certo entre os dois, que ele se enganou? Será possivel, que não sabia mais o que sentia
Olhou pra ela, disse que ia depois, já que seria demorado, ele ia deitar mais um pouco, ela também o havia cansado.
Ficou ali, a olhar para o teto, fixou no lustre, modernamente simples, mas que passava todo um ar requintado, o achava bonito, ficou ali olhando.
Ele a conhecia há já uns bons anos, sabia bem como ela pensava, como ela agia, e como as vezes sofria pela sua maneira de ser. As mulheres, não gostavam dela, por achar que ela era fácil, e daí roubar-lhe o marido ou namorado, ou ainda, pretendido, que ele sabia, nunca acontecia, código de honra dela que levava consigo, por puro gosto. Os homens também a achavam fácil, mas de modo mais divertido, todos queriam ficar com ela, pelo menos por uma  noite, só conseguia convencê-la quem ela queria que a convencesse, ou seja, quem ela estivesse interessada, ela parecia fácil, conversava com todos, brincava com todos, mas de modo nada pudico, nunca conheceu mulher mais difíficl, não era dada a joguinhos de amor, quando gostava, gostava e pronto, ia até o fim, e se machucava bem mais do que merecia, o que de certa forma a tornou masi cuidadosa, sempre observava primeiro, pra depois agir, e abrir seu corçaõ, parecia uma ostra, tão difícil de abrir que era, mas nãoa era amargurada, entendia que as coisas aconteciam como tinham que acontecer, e se ano acontecia, era por que nao era pra acontecer, independente de sua vontade, as vezes, o que nao dava certo, é por que não era pra dar certo, por mais que tentasse, com esse pensamento, deixava seu espírito leve, aberto ao que pudesse vir, porém teria que passar por seu crivo, dificil de se traduzir.
Ele viu tudo isso de perto e soube admirá-la, pela beleza, claro, era realmente bonita, de uma beleza natural, humana. Mas descobriu a beleza por dentro da loba, como os amigos dele a chamavam, lembrou de um dia, ter ficado zangado com isso, mas quando passou pra ela o apelido, ela deu gargalhadas fortes, disse ter adorado, e disse que isso era pra quem podia, não podia ser pra ela, modesta, sempre achava que estava aqúem de qualquer beleza feminina, fosse quem fosse.
Poderia então ele, estar só encantado, desse encantamento que se tem quando se vê uma pessoa forte, com aparencia de fraca, desses encantos quando se uma beleza tão singela que chega a doer, encantamento desses de quem ver uma flor se abrir, era só encantamento.
Justo ele estar com tais pensamentos era de admirar, justo ele que nunca ligou pra isso.
Ele também era bonito, de uma beleza masculina, com força no olhar, com vontade nas ações, sabia bem o que queria, sua fisionomia sempre denunciava isso, o que o tornava extremamente bonito.
Ficava com suas amigas, como sempre a chamava, afinal, voce vai ficar com quem, com a inimigas, brincava, mas nunca em momento algum, deixava alguém pensar que ele sentia o que não sentia, jogava as claras, se alguém se enganava era por que queria, e mesmo assim, teve inúmeros probelmas de mulheres a sua volta, esbravejando paixão e amor, promessas, que ele nunca fez! Achava engraçado, ignorava, e partia, sempre deixando alguém partido por dentro, mesmo sem ser proposital, tinha feito muita gente sofrer.
As mulheres o adoravam sempre, o olhavam e pensavam: este sabe como tratar uma mulher, os homens, os mais espertos, se aproveitavam de sua amizade, pra ganhar passe livre com elas, os que não tinham esse brio, o odiavam.
Será que o dono dessa estirpe, havia se engando, estava enamorado pela image que fez dela? Não parecia, avaliava muito antes de faalr qualquer coisa, principalmente com relaçao a sentimentos desse grau, não, concluiu que nao podeira estar enganado!
Ouviu o som de água, seguido de sua voz, levemtne rouca, por natureza, o chamando, ela não queria de modo algum magoar o amigo, mas também não poderia enganá-lo, ela não sabia como resolver a situação, mas decidiu, que não seria ali, não naquele quarto, nem com aquela banheira, decidiu o chamar, esquecer tudo, e aproveitar um pouco mais, aqueles momentos, com cheiro de sol, como aquele verão!
Ele quase foi, parou no meio do corredor, disse que tinha que sair, voltou, se arrumou, olhou pra ela e mandou um beijo, leve como aquela tarde.
Ela olhou para aquele corredor vazio, e ficou pensando, entendeu, ali, que tinha magoado o amigo, que o tinha ferido, e entendeu, que amizades assim, não existem,  são apenas um jeito de fugir de uma realidade simples e fácil de se entender.
Tinha medo, muito medo de se prender a alguém, mas não desses medos de simplesmente não dar certo num futuro qualquer, proximo ou não, não tinha medos práticos, tinha era medo do sentimento em si, como agir, como falar, e se resolvesse amar alguém, e se alguém não a amasse também? Mas ela sabia, que isso não se decide, nem se escolhe, acontece a revelia, como se não fossemos os personagens da nossa própria história, acontece, como um papel que nos é dado, e como atores, temos simplesmente que representar.
Era isso que não queria, era exatamente essa falta de ordem das coisas que a deixava insegura, e brincava com todos, mas com quem mais brincava era com seus próprios sentimentos, já havia sofrido demais, chorado demais, não queria, simplesmente, cair nessa brincadeira de mal gosto (como chamava o amor) e contra isso lutava veementemente, e sabia, lá no fundo que tinha perdido, por conta disso, grandes oportunidades, havia agora que analisar com cuidado, o que tinha dito, e como contornar a situação, se era possível contornar, queria o amigo de volta, mas como querer um amigo, que não quer ser mais amigo?


Ele entrou no banheiro, ja estava vestido, ela dentro da banheira, ele a beijou com uma estranha demora, ela entendeu que ali havia algo de errado, deixou o amigo ir, porque sabia onde encontrá-lo depois, só por isso... gostava de resolver as coisas no ato, mas sabia que tem horas que simplesmente não dá.

Ela ficou ali pensando com a água quente envolvendo seu corpo, assim como era sua paixão por amores que não são fixos, não entendia porque todos e todas, principalmente todas, não a aceitavam como ela era, mas como dizia, quem pagava suas contas ela era, quando estava em dificuldades e conseguia se resolver após nadar muito, também ela era, era sozinha, sem família, não se sentia triste, porque tinha muito bons amigos, que eram como irmãos, só irmãos, e alguns que eram um pouco mais que isso, ela era por ela e só.

E agora ela tinha um problema, perde um amigo e ganha um relacionamento sério, ou perde um amigo e perde um relacionamento e ganha a certeza de que nada pode dar errado.

- Já deu!

Dizia ele ao telefone para o único amigo que sabia de seus sentimentos.

- Já deu tudo errado, falei o que não devia, ela nem ligou, mas ela é assim, eu sei disso, ficou lá na banheira, eu me despedi, nem me chamou, nem tentou falar comigo... mas quando vier, acredito que vai falar, vai acabar tudo amizade, amor, tudo, como fui estúpido.

Deixou passar um tempo, um tempo longo, muito longo para resolver, porque ela com esta brincadeira havia se perdido também, quem brinca com fogo uma hora se queima, porque o fogo é selavagem e vai pra onde ele quer.

Ela queria sim, algo com alguem que confiasse plenamente,mas sabia a continuação desse filme, não tinha como dar certo porque era ciumenta, chata, queria a pessoa para si, e ninguém é de ninguém, assim, livre estava tão mais feliz, nao magoava nem se magoava, mas havia ultrapassado sem ver alguma linha perdida entre os dois.

Ia falar com ele, mas não sabia nem o que, nem como, e detestava isso, a incerteza, porque se diz que sim, tudo é lindo, nos primeiros meses, e quando acabasse, um dia sempre acaba, não podeia voltar aquela amizade que prezava tanto, bem antes de atração, adorava a pessoa que ele era, não sabia o que fazer.

Estava lá, vendo tv, numa tarde fria de domingo, muito fria, muito cinza, pensou nela, era fato, agora algum estaria na casa de alguém esquentando o outro, provavelmente ele na casa dela, ela odiava o frio, e não saía com um tempo desses nem por decreto, riu-se das coisas que falava quando alguem dizia que gostava do frio, ria-se quando lembrava-se dela, era um riso acompanhando de uma tristeza amarga, porque ele podia muito bem voltar atrás, mas simplesmente não conseguia, ele sentia que era mesmo um sentimento que o havia tomado e que ele não se formou do nada, foi crescendo sem sequer ele tomar conhecimanto de sua existência.
Estava lá em seus devaneios, e escutou longe uma campanhia, quando voltou de seus pensamentos, escutou  novamente,  porém forte gritando com ele.

- Nossa!
- Meu Deus que frio.... nossa (disse entrando assim, como se nada tivesse acontecido)
- Entra tem sopa quentinha, quer?
- Você percebe uma coisa? (disse com uma ponta de revelação)
- Quê? Que você veio só pela sopa? (entendo todo o conteúdo)
- Engraçadinho. (enaunto tirava o sobretudo e o cachecol, olhou-o e concordou com o que ele pensou).

Se olharam, sabiam que já tinham um relacionamento, só não o tinham definido como tal, e só por isso não pesava, descobriram isso, naquele momento.

A sopa quente, dava novamente a ligação quente e gostosa que os dois tinham, e eles iriam seguir sem definir papéis ou nomes, porque haviam entendido que ás vezes isso só atrapalha.

E a tarde fria findava, tentando se esquentar debaixo das cobertas.




Fim










quinta-feira, 4 de março de 2010

Na sorveteria

Ele estava febril, não de febre de doença, era raiva, muita raiva, seu sangue fervia, e se via isso em seus olhos, seu rosto... e a veia de seu pescoço saltada, de tanto que griatava, com ela.

A pobre mulher só fazia chorar, não havia argumento, nada que o fizesse parar, respirou fundo, e conseguiu se acalmar.

Por um momento ela o olhou calada, lembrou daquele parque de diversões onde num domingo ensolarado prometeram serem felizes para sempre, e os gêmeos que tiveram, só firmaram esta espectativa, os gêmeos agora, com doze anos, estavam na escola, fazendo das suas, deixando a sua professora louca, como de costume, ignorantes do inferno de dante, que descia em sua casa.

Ela o olhou firme, calada, mas nunca falou tanto com o olhar. Ele a olhou firme, calado e nunca falou tanto com o olhar.

Houve outro acesso, houve o brilho de uma lâmina vasta e bem afiada, sempre a usavam no churrasco de domingo.

O primo estava lá, esperando eles, queria fazer surpresa pros gêmeos da prima que ele gostava tanto.

Os pequenos felizes, saíram da escola e foram ingênuos com o primo, que chamavam de tio, tomar sorvete antes de seguirem pra casa, nunca faziam isso quando era a mãe que ia buscar, queriam aproveitar.

Batidas de uma polícia na porta, e vizinhos, os mesmos que chamaram ajuda, escutavam, temerosos.

Invasão.

O lugar era colorido, como qualquer sorveteria, passava a programção local, um programa de desenhos animados, risonhos e felizes, como convém a qualquer desenho, que se diz animado.

O primo, a quem chamavam de tio, aproveitava para contar a última novidade, iria se casar com a melhor amiga da mãe deles, ia se mudar pra lá, tinha até comprado casa e tudo o mais, estava feliz e a culpa era dela, sua prima o ajudou desde o início daquele namoro.

Ela e o primo, sempre se deram bem demais, como convém a qualquer boa amizade.

Surgiu no meio daquela tarde ensolarada, uma música, ruidosa, feita para chamar atenção, de quem ainda não havia se apercebido do aparelho, ela agora dava em notícia extraordinária, que vizinhos chamaram a polícia, e apareceu na televisão, diante dos pequenos, do primo, a quem chamavam de tio, e de todos que ali estavam, ela, agora chamada de corpo, e ele, agora chamado de réu confesso, dizendo que a culpa era de um primo que tinha vindo do interior, só por causa dela, e que ele tinha comprado até casa, que estavam planejando fugir juntos, e ele, não poderia permitir, afinal ela tinha prometido a felicidade, sempre.

Havia sangue, muito sangue.

Silêncio...

Haviam gêmeos, já nem tão ingênuos, que não gostavam mais de sorvete, que não entendiam mais nada, só sentiam um gosto amargo e frio.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Mais uma de Sexo

Houve então, depois de densos olhares, as mãos se flertando, as bocas se desejando, e foi impossível para ambos evitar qualquer contato físico maior, impossivel, os perfumes dos corpos ja tinham feito seu trabalho, e a excitção dos dois era visível a um cego!
Então, naquela primeira noite que se viram, também foi a primeira noite que passaram juntos a noite, a manhã e um pedacinho da tarde.
Dias seguintes, se seguiram...
Não houve ligações, nem dele, menos ainda dela.
Depois dos dias seguintes...
Telefone, mudo.
Nada.
Ela então o esqueceu.
Até que então, numa noitada dessas, de festa e prazer o encontrou por acaso, na boca de uma morena, capaz de parar qualquer trânsito.
Nada sentiu, a não ser uma profunda coinscidência, afinal o lugar não era assim tão conhecido. Quando ele a viu, sorriu, ficou sem mãos, sem fala, sem rosto, sem jeito, e disse quase sem dizer, um tímido boa noite.
Os dentes dela o viram então, e mastigarm seu boa noite, e falaram então, tão faceira quanto uma menina.
"Foi muito boa aquela noite, né... que aliás foi até um pedaçinho da tarde... quando quiser de novo, a gente combina, tá! Bjs".
E saiu, deixando que suas costas a mostra do vestido, lhe dissesem adeus!
Ele a olhou embasbacado e percebeu o tamanho do erro, assim como quem vê uma luz no céu, viu o erro tão claro, como uma tocha olímpica lhe ardendo no cérebro.
Sabia porque ele não tinha ligado, mas descobriu agora porque ela não o tinha feito.
E concluiu que ela nunca iria ligar, não porque é o que se reza em qualquer etiqueta feminina arcaica, mas porque ela não tinha valor algum por essas coisas mundanas que ele tanto se importava.
Acreditou que ela, por ter saído logo assim de cara, sem preparo, sem semanas ou meses depois de se conhecerem, como convém a qualquer uma, que não queria ser "qualquer uma, o fez julgar que ela era assim como dizem por aí, qualquer uma (mas todo mundo o é). por esse motivo, não havia discados aqueles números agora tão queridos.
Mas, ali, diante daquelas costas nuas, recortada pelo vestido, que se foram, sem dizer adeus,  via agora que essa atitude dela, de não estar nem aí com a pipoca, se estoura ou deixa de estourar, ou se salga ou deixa de salgar, era porque ela creditava a nobreza nela interia, não apenas numa parte dela, e justos nas suas partes mais baixas.
E se viu, como ela... e percebeu que em menos de uma semana, ele havia saído, logo assim de cara, sem preparo, sem semanas ou meses depois de se conhecerem, como convém a qualquer um, (mas todo mundo o é), inclusive se orgulhava, cometando cada novo feito. 

Percebeu naquele micro instante, que ela não ligaria para sua vida sexual pregressa, porque era só sexo, descobriu então, naquela luz intermitente da balada, que fez dois pesos, e ganhou duas medidas.
Saiu de onde estava, foi falar com a morena, mas perdeu sua libido em algum lugar do salão.
Foi embora.
Em casa, quanta pretensão, achar que ele era o senhor da situação, ter a ousadia de achar que tem o poder de dscartar alguém, como se faz com os copinhos de plásticos.
Descobriu, em seu doce lar, já nem tão doce, que ele sequer a conhecia, como então, poderia pensar em tirar conclusões acerca de seu valor, por conta de uma única noite... que foi até um pedacinho da tarde... tinha sido bom, e isso era a única conclusão descente que poderia tirar.
Não, meu irmão, disse a si mesmo complascente: -Foi ela que me dispensou, com aquele meigo sorriso, jogando um beijo no ar, e falando pra ligar, sabendo que não haveriam números a serem discados, foi ela, seu tolo, que descobriu que, se você mede a diginidade de alguém, por entre as pernas, concluiu que voce está muito atrás no seu tempo, muito aquém, da digna senhora.
E percebeu, olhando para seu próprio corpo, que ele era tão fácil como um nota de um real, e sempre achou isso natural, devido sua natureza (era macho) viu então, que ela mantinha a mesma condição natural (era fêmea), logo tinham os mesmos direitos.
Depois de dias pensando, resolveu sair, e se esqueceu de ser arcaico, reviu assim, em suas novas retinas, mulheres com um pouco mais de profundidade, que não se ofereciam porque tinham medo de noites mal dormidas, ou por ter planos futuros a custa de parcos momentos, eram essas muito concisas de si, que sabiam quando queriam dois corpos em um cálido momento de inquietude, ou quando queriam somente sexo. 

fim

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

2º microconto


Falha!

Era lascivo seu gemido, inebriante, o tremor daquelas cadeiras, que comandavam seu corpo todo, que acabara de ter um banho exaustivo de suor, quente... como a temperatura que nela subia... e ia cada vez mais fundo... num espiral de tortura e gozo, que só quem ama entende... 
E ela dançava, com o olhar...com as mãos... com o sorriso... com os cabelos...
Ele ali, boquiaberto, diante de tão fêmea criatura, admirado com a beleza lanscinante, não pode mais propor sorver-lhe o céu daquela boca de cereja, não que não quisesse, mas o nervoso diante de tanto talento era sóbrio demais pra tão enebriante sensação...
Falhou!

Fim

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

1º Microconto que escrevo... Intitula-se...


Galão D'água

Ela estava lá... hirta de tanto medo, molhada de suor, e lhe corria um frio pela espinha...
Ele então, que sabia ousar e muito de seu poder de chefe, gritou, esbravejou e cobrou, de novo, aquela produção, aqueles números... "onde estavam as vendas?" Perguntava ele, com tom sínico no olhar... verde de arrogânica... "na sua gaveta?"
Saiu, da sala, via diante de si uma onda jorrando em lágrimas... perdidas...revoltas...não viu aquele galão de água, que tantas vezes lhe matara a sede, onde tentava calcular como conseguir mais vendas... e o estribuchou... rachou e vazou como sangue de um morto, toda a sua água existente...
Ficou fora de si, revoltou-se como o mar revoltado de seus olhos, com o grito dos companheiros, e finalmente deu vazão ao seu surto, gritou, esbravejou, vociferou... "vocês, que vendem, vendem a alma, ou a cama?
Pegou a bolsa, e amorosamente, visitou o chefe.
Aquele hashi que lhe servia únicamente para prender os cabelos, foi violentamente metido na jugular,  a parte fina entrou, o sangue jorrou, ele também já sem vida, como aquela água, daquele galão, tombou seco.

Fim
 

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Perto daquele mar, de olhos verdes

Estava um tanto apreensiva... não sabia direito se o que estava fazendo era o certo.
Mas por fim, tomou coragem, um pensamento feliz a tomou e daquele rosto saiu um sorriso, de menina, que vai aprontar mas fazer uma boa ação, como quando mentia pra mãe, dizendo que ia na casa da amiga, e ia comprar o seu presente de aniversário, era uma peraltice, mas uma peraltice boa.
Por fim, ele teve o merecido descanso, trabalhando naquele escritório com cheiro de café, e ar condicionado. Quando abriu a porta finalmente pode respirar, ar poluído, porém da rua, estava enfim, livre... por 4 dias, contando um dia de lambuja por banco de horas, e mais a sexta que era feriado, livre, e como já decidido, foi direto para o carro, onde estavam suas roupas, felizes, por poder viajar pra praia depois de tanto tempo.

Arrumou a mala, como quem arruma a mudança de porcelanas, fazia assobiando, olhou para o céu, e pediu, com humildade para São Pedro, que ajudasse no tempo, precisava que não chovesse, praia e chuva realemtne não combinam, pode até ficar bucólico, ter uma certa beleza poética, mas é só, não se pode sair, não há mesinhas na calçada, nem namorados andando abraçados, e queria muito fazer tudo isso.

Olhava a hora, como se estivesse com pressa, mas, mais por hábito, do que pressa exatamente, porque já estava no começo da estrada, e se esforçasse tinha quase certeza de que poderia sentir o cherio do mar, então olhou o céu, e pediu, quase brigando com São Pedro, que afinal deixasse um final de semana bonito, para aproveitar, esses dois dias de tão sonhada liberdade.
É verdade, que ele já tinha ido, para praia várias vezes, tinha até um grande amigo, que quando não descia  alugava a um preço que não existe, o apartamento, praticamente em frente ao mar, bastavam umas cinco quadras, e da janela do quarto, se esticasse o pescoço, para a direita, podia se ver um pedaçinho azul, daquele mar imenso, era mesmo o paraíso, a apenas alguns kilômetros do inferno, não entendia como isso acontecia, somente sabia que acontecia.

Finalmente depois de arrumar a mala, suspirou, contando mentalmente tudo o que havia colocado, e suspirou de novo, por não poder ir naquele mesmo dia. Tinha trabalho na manhã seguinte, até ao meio-dia, e depois, rodoviária e por fim, praia! Não contava o metrô, nunca contava, isso de certa forma fazia com que todos os passos para a praia, ficassem num tom cinza.

Aspirava bem fundo, fechando os olhos, como se quisesse se fundir ao lugar, e sentia o cheiro daquele mar verde, entre o claro e o escuro. Olhando de longe via um tapete azul, e mentalmente fazia uma reverência, tinha certo medo, e um respeito pelo mar, que só pescador tem, disseram-lhe uma vez que em seus antepassados, haviam vários pescadores, pensava então que esse ritual com o mar, devia estar no gene, mas com ritual ou não, aspirava aquele mar, estava chegando, finalmente, ao pequeno paraíso.

Olhou o relógio, olhou a rua, e não via ninguém conhecido, pensou que se ele chegasse, pediria ao porteiro para esperar,  decidiu então sair, comprar algo na padaria ali perto.
Comprou pão, sucos, frutas, frios e vinho, branco, para poder resfria-lo, sem cometer nehum pecado com os tintos, que combinam mais com o clima frio, tinha feito peixe para o jantar, e o peixe pedia vinho.
Voltou com uma pressa atípica, mal viu a portaria e olhou ao redor, olhou o porteiro, mas não, ele ainda não havia chegado, restava subir, e preparar o peixe.
O jantar já estava com a metade do caminho andado, bastava só forno, algum tempo e pronto, o vinho poderia ser servido, porém nada disso teria alguma graça, se ele não chegasse em tempo.
Na verdade, nem tinha tanta certeza, quando o viu, ele disse que iria para lá, porque já tinha marcado e tinha que descer, mas não tinha certeza se iria pra casa dela, ele havia combinado, mas sem muita certeza.
Era começo da noite, decidiu então, ligar a tv, e enquanto assistia a programção, na sua maioria, vazia e sem graça, tomava um chá.

Ela não era dadas a loucuras, não fazia nada por impulso, e, não que tivesse medo, mas ela não se conhecia pela sua grande coragem, então quando tomou aquela decisão, quase não se reconheceu quando se olhou no espelho enquanto se penteava, afinal, uma loucura na vida de vez em quando faz bem, e de certa forma, era o chamado risco calculado, sabia que ele estaria lá, sabia que ele nem sonhava da presença dela, a surpresa perfeita, para um ano de namoro.

Era na próxima esquina, olhou o prédio, alto e imponente, e com um formato, que era peculiar, o que dava a ele, certa fama, era só mencionar a forma do prédio, e todo mundo sabia de que prédio estavam falando, na portaria se anunciou, e embora soubesse que pedissem para ele subir, sempre tinha certo receio de que não tivesse ninguém, afinal chegou praticamente sem hora nem dia marcados, era só uma promessa, feita em São Paulo, sem muita certeza, pensava nisso, quando o porteiro, disse que ele podia subir, informava o andar e o apartameto, como se ele não tivesse acabado de mencionar o numero, não entendia porque todo porteiro fazia isso, mas também isso, não tinha importancia menhuma, tinha importância sim, o fim daquele corredor, já na metade dele, pode sentir um cheiro de peixe fresco, acabado de assar, um cheiro bom, uma comida de praia, além do clima, do local novo, das malas, a comida vinha lembrar de seu doce paraíso, se abrindo suavemente perante ele.
Ouviu a campanhia, se olhou por um segundo no espelho para já conferir o que estava conferido, se sentiu perfeita, e então abriu a porta.
Não disseram nada, se beijaram, forte e prazerozamente, enquanto entrava no apartamento, tentando fechar a porta com os pés, e caíram sobre o sofá, macio como o corpo dela, forte como os braços dele, luxuriante como aquele momento.
Ficaram assim, um curto espaço de tempo, mas tão intenso que se esmiuçado poderia levar horas.
Sentaram-se ele na sua maciez, ela na fortaleza de seus braços, e na luxuria das pernas se enroscando, enfim se olharam, e disseram olá.
O que ambos não entendiam, é que tudo estava pré-marcado, dia, hora, tudo, mas mesmo assim, estranhamente, não havia certeza de nada. Tanto que o prazer deste encontro era multilicado por duas vezes o prazer comum, que já era muito.
De repente, ela o olhou assustada, parou a respiração por um segundo  gritou correndo pela casa... "o peixe!"
Ele atráz, para conferir o estrago, mas felizmente, fogo baixo, serve para não deixar o assado queimado, e o peixe por fim, foi salvo, para o jantar.
Num silêncio de risos dançando soltos pelo ar, se ouviu o espocar da garrafa, o vinho caia na taça, como se fosse alguém mergulhando gostosamente no mar.

Ela ligou o computador, e olhou pra ele como se não tivesse nada pra fazer ali, resolveu apenas olhar o e-mail, um ou outro site, e desligou o computador sem mais emoções .
Se arrastando foi dormir, para esperar por menos tempo o dia seguinte.
Por fim, chegara o tão sonhado dia, e que medo, não do tempo, olhava o céu como se o tempo fosse a última das suas preocupações, pensava tanto em tantas coisas, que se perdia em pensamentos... "e se ele, não foi?" ... " e se ele foi e teve que voltar"... " e se ele, não foi na casa do amigo, como vou encontrá-lo"... e por úlimo e aterrorizante..."e se ele não gostar da surpresa?"... depois sorria, porque dentre tudo isso, pelo menos vai ver o mar, e isso é sempre bom... e claro, que ele ia gostar da surpresa, senão que tipo de namorado seria?... pensava tudo isso quando sentiu se levitar, olhou para o chão... e a sorte estava sendo lançada... o ônibus saia da rodoviária, devagar, calmo, levando todos os sonhos daquela gente no seu grande porta-malas.
A estrada com todo aquele sol, quente e febril era linda... via as árvores, o gramado as pequenas montanhas, como misses que passam acenando no estilo de princesas que desfilam sua beleza para o público embasbacado. 

A tarde, já estava alta, como uma adolescente que está amadurescendo, se bronzeando, entre o sol e a lua, olharam um para o outro, e decidiram que estava na hora de ir, tomar um banho, e sair para as famosas mesinhas, o andar no calçadão de mãos dadas, não existia ninguém além deles, pelo menos conhecidos, podiam o mundo.

Pediu um quarto, ela não ia assim de mala e cuia para a casa do amigo do namorado (amigo esse que nem conhecia) e se ele estivesse lá? E se ele não estivesse lá? Não, a mala ficaria lá! E, claro, tomaria um banho, deixando a água devolver o doce cheiro da colônia que gostava de usar, depois de acariciar-se nele e cair, como que embriagada de êxtase, mole e escorregadia.
O vestido olhava pra ela, não sabia se ele iria ou não sair, havia com ele, mais uns dois, para prender a atenção dela, que agora, só tinha a toalha e a luz por companhia, ninguém para auxiliá-la a se decidir, qual era o mais perfeito, pelo menos para aquele momento, sabendo que logo estaria amassado, e bem possivelmente tirado, sorria, com a certeza de que tinha do seu nome, que a noite iria ter as estrelas, uma a uma nas mãos, e iria jogar como os moleques que jogam bolas de gude. Sorriu, feliz

Felizes por estarem juntos, passeavam, contentes, achando bonito, até mesmo o carrinho vendedor de pipocas, achando o mar mais azul que de costume, achando que a vida era assim, perfeita.
Foram para o mar, pegaram o caminho daquelas areias fofas e ainda quentes pela tarde de sol praiano e foram em frente, alcançaram o razo do profundo mar, e ambos deixaram ele, o mar, contar segredos leves aos seus pés, falando de desejo... e o desejo foi tanto, que sentaram ali mesmo, em praia tudo e perdoado, até roupa molhada, se for pelo salgado daquela água, se olharam, e como se ainda não tivessem se visto, deixaram os corpos se falarem, mas corpos só falam se tocando, se sentindo o cheiro, se arranhnado levemente, se olhando, se falando numa linguagem muda de sinais que só os namorados entendem, e assim, passaram algumas horas, afinal dia seguinte, era dia de branco, pra ficar mais tempo sem fazer nada, na praia, tinham esse direito, depois de semana tão intensa de trabalho, tão travada de afazres, tão cheia de "entãos", que mereciam descanso.

Era um prédio simples aquele, bonito, arrumado, como casa de interior, simples, mas que uma vez lá, não dá nehuma vontade de ir embora, entendeu naquele momento porque ele tinha tanto apreço pelo mar, e decidiu, assim que pudessem, ia morar ali, na praia.
Tocou o interfone, que aliás, é o único jeito de se abrir aquele portão, que no meio de tanta docilidade, parecia um tanto quanto carrancudo, talvez porque sempre o utilizavam e sempre o batiam para fechar, embora não houvesse nenhuma necessidade.

Ele ia subir, teria que ir para São Paulo, trabalhava com eventos e isso era assim mesmo, era chamado em qualquer hora e momento, na verdade deveria já ter decido, mas como o amigo avisou que desta vez ele não iria precisar do seu apartamento, decidiu ir de manhã, aproveitava para descansar um pouco do evento anterior, que tinha sido na praia mesmo. Ia tomar um banho, para tirar o mormaço do mar (era do sol, mas quando se está na praia, tudo parece ficar com o cheiro do mar), quando estava com a cintura envolta numa toalha branca, como uma nuvem de fim de tarde, ouviu a campanhia, estranhou, quem afinal poderia ser, seu amigo, não seria, talvez uma de suas fãs, que arrependidamente lembrou que poderia ter dado o endereço, só poderia ser isso, então foi atender.
Não entendeu nada do que a moça dizia, pediu então pra que ela subisse, afinal, era voz bonita de mulher, e isso sempre é bom.
Ela estava apreensiva, nervosa, quando ouviu aquele voz de travesseiro do outro lado, ficou ainda mais perturbada, e confundiu tudo, felizmente o amigo de seu namorado era educado e pediu pra subir, ou ainda... talvez ele próprio estivesse lá, e a ouvindo, pra fazer surpresa, pediu ao amigo para pedir a ela para subir, sim, não poderia ser outro o motivo. Olhou então em frente, como se já soubesse quem iria abrir a porta, e viu então, aquele corpo todo nú, não fosse por uma pequena toalha, branca, inocente, fazendo contraste com aquele bronzeado de surfista, ficou olhando, admirada e ficou vermela como se uma tocha se lhe tivesse roçado no rosto.
Ele sorriu, pediu desculpas, a fez entrar, explicou o motivo (óbvio) da toalha e lhe ofereceu água, que aceitou, precisava de um gole.
Depois que aquele gole, a recobrou os sentidos, olhou em volta e perguntou por aquele que ela tanto queria ver.
Ah, é você a deusa dele? (a pergunta saiu tão natural quanto o olhar que ele sem querer enviou a ela, como que entendo o motivo da euforia do amigo), o olhar foi tão contundente, que ela até baixou o olhar, pra não se ferir, sorriu, sem saber porque, mas seu íntimo de mulher, sabia bem o porque de estar sorrindo.
"Eu pensei, pelo que ele disse que voce já estivesse aqui, então voce não tem um apartamento aqui?"
Explicou todos esses pormenores, e ele então entendeu, sua deusa (de seu amigo), não morava lá, tinha um apartamento furtivo, perdido, na orla do mar, não poderia haver mulher melhor, saber como encontra-la e melhor ainda como perde-la, sentiu inveja de seu amigo, pela primeira vez na vida.

Então, ele, já quase tirando a blusa, que cobria sozinha aqueles seios perfeitos, levando sua boca em direção aquele colo desejoso de um beijo, quando ela deu um pulo para tráz, enfatizando que não poderiam fazer aquilo, pelo menos não ali.
Sorriram, porque aquilo era a mais pura verdade, embora se perdoasse tudo na praia, se descobertos, a policia poderia achar que aquilo era atentado violento ao pudor, e por pura vontade de estarem em seus lugares, não exitariam em dar-lhes um corretivo qualquer, por pura diversão.
Se arrumaram, levantaram, e saindo quase como pedindo liçença praquele mar soberano que era, e sairam, em direção aquele prédio de formato estranho.

Voltou ao quarto, triste e desolda, era uma aventura, mas ela era uma criança nesse quesito, não sabia bem como lidar com essas coisas, sentou, abriu a mala e não conseguia bem se decidir se voltava ou ficava e descobria onde ele estava, achou estranho que o amigo soubesse dela com tantos detalhes, mas ficou feliz por isso, e por isso mesmo, decidou esperar um pouco mais, no dia seguinte, tudo estaria melhor, e eles iam se encontrar, ela podia sentir isso, só não conseguia definir, se sentia isso por intuição ou por puro desejo.
Lembrou quase sem querer, assistindo a um comercial sem graça sobre a orla, que havia uma padaria que ele sempre comentara, pelo menos ela já sabia onde tomar seu café, e depois caso não desse certo a empreitada, iria pra casa.

Ela queria lhe servir café na cama, mas só conseguiu servir seu beijo, porque simplesmente havia se esquecido de comprar os principais para essa atividade, como pão, manteiga, e o próprio café, só havia o açúcar, e o chá, verde como seus olhos, mas se lembrou que frutas, são sempre uma boa opção, e devoraram todas aquelas duas únocas maçãs, mas a fome continuava a devorar-lhes, então não tiveram escapatória, teriam que sair, antes do programdo, embora o sol já fizesse sombra há algum tempo, pra eles era cedo, pois haviam ido dormir tarde, mas o zunzum daquela padaria os fariam acordar, juntamente com o cheiro gostoso daquele café, com gosto de domingo.
Por isso ele gostava tanto dali, po cfé era delicioso, o pessoal atendiam como eles fossem irmãos que se dão bem, e sentia o ritmo da praia bem ali, e as mesinhas, que convidavam a olhar aquele mar, que os olhava de volta, dizendo bom dia, aquilo era inigualavel.

Ela sorvia aquele café, como se fosse uma detetive em busca de pistas, nem olhou aquele mar, que também dizia bom dia à ela, tão displiscentemente.
Comeu, rápido como se estivesse no centro da metrópole atarantada e poluenta como sempre, quando lembrou que não estava lá, que não estava com pressa, e então, terminou o café como gente, pelo menos como todos deviam fazer, estando na cidade ou não.

Foram pagar, claro, que ele desembolsou todo o custo da mesa, mas nunca deixava, a metade, fazia questão, dizia de forma brincalhona, "pra que serve a independencia feminina, se deixarmos pagar toda a conta?", diante de tão honroso comentário, não havia como negar-lhe nada.

A moçinha que se encontrava atráz daquele casal tão simpático, esboçou um leve sorriso, quase que por vergonha, afinal, não agia assim, embora sempre falasse como se fosse um eco, sobre a tal da liberação feminina, mas sabia que ela mesma não era tão liberta, deveria então, aprender com aquela que se não fosse o rapaz estaria imediatamente a sua frente, pagaram, e na calçada, num lugar que atrapalhava os passantes, roubou-lhe um furtivo beijo, pequeno, sutil...

A moça que até bem pouco a havia admirado, lhe recriminou mentalmente, pediu licença, encostando propositalmente no casal apaixonado, como que para avisar, que na calaçada, na passagem, não era lugar daquilo. Mas o rapaz, era educado e pediu ele desculpas, já que o ato falho era o dele.

Se olharam, por tantos minutos quanto se podem olhar dois seres que não sabem o que fazer diante de uma situação que não eram para estar vivendo em nehum momento.
A outra moça, até chegou a achar engraçado tudo aquilo, mas quando viu ele pálido como a areia, e ela vermelha como o próprio sol, entendeu, que algo não estava bem.
Sem falarem nada, foram para o lado, já que um outro cliente, também recrimirara e pediu licença de maneira quase nervosa.
Se olharam, estavam todos calados, o único que emitia um som, grosso, embutido, como a rir de tudo aquilo era o mar, ao lado, como testemunha de toda a história intima, de cada um dos três presentes, olhou e gracejou com voz mareada e profunda que todo mar tem.
Ninguém conseguiu se mover, ninguém conseguiu falar, ninguém conseguiu parar de se olhar, e o olhar contava tudo, havia ódio, pedido de perdão, desilusão, trsiteza, mas nenhum sentimento bom.

No seu íntimo, não sabia o que fazia, e quando isso acontecia era muito constrangedor, porque fosse onde fosse, fosse como fosse, paralizava, e não havia meios de tentar andar, emitir som, algum, um mísero gesto, simplesmente, empedrecia (como pedra) estática, pálida, fria, absorta.
Fechou os olhos, lembrou-se de respirar, e respirou tão profundo, que todo o oxigênio da cidade, do interior, e da praia, foram de encontro a suas narinas, agora dilatando-se para pegar todo aquele ar, de uma única vez.
Olhou-os, tentou sorrir, mas o sorriso saiu tão torto, que mais parecia uma careta.
Fechou as mãos, como se fosse dar um soco, que talvez nem pugilista profissional, conseguira esquivar-se.
Aquele momento estava mudo e mudo continuou.
Olhou pro chão, jogando aquele misto de sorriso e careta, e pisando nele, olhou os dois, tão incrédulos daquela situação, em meia a um domingo tão perfeito.
Saiu. Perdida.
Andou tonta, como se tivesse se embriagado durante dias, sentia o mar, indo e vindo, como se caçoando dela, e o olhou com todo o ódio que tinha naquele moemto do mundo, e de todos, e como um carrossel lembrou de tudo, desde o pedido de namoro, os presentes, as surpresas, os beijos, as saudades passadas quando ele saia da cidade, lembrava-se do amigo envolto naquela toalha imoral, e viu toda história linearmente, e concluiu, que isso já havia muito tempo estava assim, todas aquelas vezes que ela não poderia acompanhar, sabia agora, onde poderia encontra-lo, perdido, na boca daqueles olhos verdes, como se fosse duas gotas daquele mar, morteiro, intenso, falso, como todos os sorrisos que poderia ter dado pra ela quando voltava pra cidade, a lhe dar bombons, pois claro, o prato principal já havia sorvido, restava-lhe a sobremesa, pensava, definia tudo, depois, perdida, não definia mais nada do que estava por séculos definido, não sabia, o que pensar de nada, culpava a tofos, depois não culpava ninguém, culpava a ela própria, depois se martirizava, depois se achava heróica, porém consumnida... andava assim, cambalenate, para aquele pqueno hotel.
Sem falar, e quase sem arrumar mala alguma, socou o que pode na mala, e outro tanto, em outro mala pequena de mão, e tudo ali, ficou misturado, sahmpoo, com sapatos, com roupas de baixo, com vestidos novos, e biquines, tudo misturado na mesma miscelânia de pensamentos que estava sua cabeça, perdida.
E daí par frente, o fez inerte, como se fosse uma máquina, e ligasse um piloto automático e o corpo fosse sozinho já pré-programdo para o que tinha que fazer, mas sem alma alguma que pudesse lhe salvar de qualquer coisa.

Tentou correr atrás dela, foi segurado pelo braço, e aqueles olhos verdes lhe explicaram, que isso não iria adiantar de nada, só a piorar o que já estava ruim, olhou para frente, como se perdesse a mãe num acidente qualquer ali, a sua frente, estava ainda pálido.

Ela estava lá, ouvindo de fundo o mar, e aos poucos, o som do resto da orla parecia aparecer antes seus ouvidos ainda incrédulos, como sua face ainda mostrava, não disse nada, por que nada poderia ser dito, o levou para aareia, porque nada poderia ser também feito, porque ante uma tragédia não há nada que se possa fazer ou falar, só se sentar, e esperar, porque o tempo  é o único que ainda consegue curar as feridas, e de certa maneira, conversar diretamente aos poucos com os envolvidos, da forma que mais lhes conviam, nem sempre confortante, mas sempre como convém, e se a paisagem fosse bonita, seria melhor, afinal, pensava ela, pra que colocar sal, na ferida, que dói, isso não cura, nem serve como desculpa, então se tiver uma paisagem bonita pra olhar, olhe.

Ela via aquele domingo acabado, e não sabia como seriam os próximos, não queria nada demais com ninguem, só um pouco de diversão, um pouco de contentamento, que a praia, especialmente no verão atiçava qualquer corpo, que aindo estivesse vivo, que mal poderia haver em um ou outro amigo, que pudesse ser mais interessante, e ela sabia, que ele pertilhava daquele sentimento, se é que poderia se chamar assim. Talvez por isso, entendia o que ele estivesse passando, e pudesse de certa forma conforta-lo como se fosse um seu irmão.

Aquela moça acabava de chegar de viagem, curta é verdade, nem bem duas horas de estrada, mas como considreva viagem, sempre que saía dos limites da cidade, considerava que voltava de uma.
E sentou no bamco de um metrô razoalvelmente cheio, em pleno domingo, e se pos a pensar, que afinal todos deviam estar voltando da praia, voltando no domingo, pra segunda, ainda pela manhã bem cedo, estar a caminho se seus trabalhos, sentiu certa compaixão por eles, lembrnado a sorte que tem por não ter que trabalhar no pior dia da semana, uma segunda, suada a contraditoraimente fria.
Estava absorta nestes pensamentos, quando viu, que uma moça linda, com cabelos levemente louros, presos displiscentemente, prendia o choro, tentou olhar mais detidamente, tão discretamente quanto podia, porque não poderia acreditar, que naquele domingo tão bonito, alguém tão bonita, pudesse chorar assim.
Não, não estava chorando, estava segurando um choro, que devia estar lhe comendo o coração, cru a dentadas, e aquela moça, que divagava sobre aquele domingo pueril, podia sentir essa dilesceração, isso era visível, via que a moça quase loura, segirava um choro que poderia romper, a qualquer momento, como um mar, em dia de ressaca, qua não se contenta com seus limites, e invade, todo o litoral, inundando tudo.
Então, se esqueceu por completo dos trabalhadores, da questão do domingo, e se perguntou, realmente interessada, no queria poderia ter acontecido.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Quase um casamento

Sexta de manhã... de sol... ela estava apreensiva, nervosa, parecia que ia ter sua primeira entrevista de emprego, ou sua primeira vez com o primeiro namorado, mas não, estava só indo ver como ficou seu vestido, o problema é que não era um vestido qualquer, tinha sido feito sob medida, importado de outro estado, copiado sem o mínimo pudor de uma destas revistas especializadas nestes vestidos, a única alteração permitida foi umas flores na barra, era essa a sua dúvida...se tinham ficado boas... afinal tudo tinha que ser perfeito... não era um vestido comum...era um todo branco, como convém aos de noiva.
Ele estava naquela loja, totalmente sem saber como falar, se aproximou da recepcionista, dessas bonitas, que não se sabe como, mas parece que não se desarrumam nem pra dormir, ela lhe deu um sorriso administrativo, e apontou um lugar onde ele pudesse se sentar e esperar, ofereceu um café, que ele aceitou, apesar do frio, sentia calor, muito calor, mesmo com 18 graus, o nervoso lhe subia a temperatura de um modo, que o fazia imperceptível a baixas temperaturas, e não era à toa que estava tão nervoso... era um emprego que estava em jogo, estava cansado de receber a mesma resposta, “ligaremos assim que soubermos da resposta”, ele sabia que isso era igual à promessa que ele mesmo fazia as moças que conhecia numa balada, nunca ligava no dia seguinte.
Ela estava apreensiva, será que tinha ficado bonito, e se tinha ficado bonito, será que combinaria com ela, e se tinha combinado, será que os convidados iriam achar maravilhoso, se perguntava.
Aceitou aquele café tão docemente oferecido pelo aprendiz de estilista que ali estava querendo ele ter desdenhando tão efusivo modelo, que como gostava de dizer, estava “estrondoso”. Enquanto tomava o café feito na hora, com a fumaça que se alongava parecendo até uma modelo de passarela, tão frívola e irreal que era, a dona da loja, ia pegar o tal vestido tão esperado, ia devagar parecendo fazer de propósito, para aumentar mais ainda sua ansiedade, que aquela altura, já tomava formas de angústia, ia ela devagar, mas não porque era uma senhora malvada, com um sorriso maligno de canto, como sorrateiramente pensava a jovem, é que ela era uma senhora, que apesar de ainda na flor dos seus 50 anos, bonita e com corpo de quarenta e alguns anos, longilínea como toda boa modelo, que alías era um passado que gostava de ressaltar, tinha a pouco sofrido uma operação, por “qualquer problema do joelho”, como dizia sem entrar muito em detalhes, pois toda vez que se lembrava disso, lembrava que seu tempo estava passando, rápido, enquanto ela ia lentamente, mas apesar de tudo estava feliz, era uma boa venda, um vestido assim não era barato.
Mas afinal o que é um vestido caro, diante de uma jovem no calor de seu mais belo sonho, o casamento, sonho aliás que aquela ex-modelo não tinha podido viver, um sonho que se foi, para outra cidade, por conta de um projeto, com outra família, sem ela.
Curiosamante ela se lembrava disso, assim como uma dor pequena, que quase não se sente, mas que sempre incomoda.
Ia lá subindo aos poucos os degraus, tendo ao fundo uma moça levantando os olhos a medida que ela subia, estava ali, crucificando aquela jovem senhora por não andar mais rápido, afinal era o vestido dela que estava ali, não era qualquer um... era pra estar tão anciosa quanto ela própria.
Metido num terno, desses da moda, todo sorridente, como todo bom vendedor de concessionária, estendeu a mão e prontamente ofereceu-se para avaliar o currículo, lendo cautelosamente, todos os pormenores, pontos, vírgulas, conferia até a foto, que parece agora índice indispensável em qualquer currículo, com isso parece se resolver qualquer dilema que possa ser delicado.
Aquele rapaz falava pausadamente, escolhendo as palavras com cuidado, como se estivesse numa prova de gramática, que até tinha certo domínio, mas nervoso, ninguém domina bem nada, ia então falando devagar, lembrou no meio do discurso, que leu em algum lugar, que os chefes gostavam de pessoas com senso de humor apurado, contou uma piada leve e apropriada para a ocasião, mas talvez fosse leve demais, pois tudo que conseguira foi um sorriso falso dado de lado pelo leitor do currículo, o que o deixou ainda mais nervoso, foi quando pediu um copo d´água, e teve aquela visão fabulosa novamente, com aquele sorriso administrativo colado em seus lábios de cereja.
“Será que se eu comprasse a vista o carro mais caro daqui, e a convidasse para sair, ela iria dar esse o sorriso pra mim”, pensava ele, mal sabendo que ela já tinha compromisso depois dali, ia sair com a “melhor amiga dela” como dizia, aos colegas.
E lá veio aquela mão estendida, “novamente”, pensou... “nada por enquanto”, estava tão enfurnado nesse pensamento que quando ouviu os parabéns, apenas disse obrigado e se levantou, foi chamado a atenção
“Sabe a que horas você deve começar”?
Foi aí que percebeu, finalmente estava empregado, mas não podia dar pulos efusivos depois de tão sucinto obrigado, apenas disse como quem esquece um casaco, ah, é... as nove não é?
Com a justa correção, lhe foi explicado que todos os vendedores teen que estar uma hora antes, ele agradeceu novamente, mas desta vez como quem ganha um presente, voltou pra casa, em um ônibus que parecia adorar andar se chacoalhando todo, ia pensando que finalmente iria limpar o nome, pensava com um sorriso que uma jovem dá quando vê seu primeiro amor, ia finalmente pagar uns atrazados e resolver as pendências do bar, iria demorar um pouco, mas não queria pensar nisso, queria contar a novidade para seu amigo, e comemorar, afinal os tempos de vacas magras tinham terminado, saiu, agora feliz tanto quanto se pode estar, sabendo que no dia seguinte há que se acordar cedo para sorrir falsamente para clientes ricos comprarem, e clientes pobres negociarem e por fim, só no final do mês receber uma quantia aquém do esforço realizado e mais curta ainda para o mês, mas estava feliz e foi ao amigo, que como trabalhava a noite, sabia que estava em casa e provavelmente, no começo da tarde, acordando e procurando algo pra comer, decidiu comprar algo para comerem, já que também estava sentindo alguma fome.
Claro que sua mãe estava lá, não poderia perder nunca este momento tão mãe e filha que se pode ter, a escolha do seu vestido de casamento, estava ali, toda dentro de um pretinho básico, revelando com polidez as curvas de que se pode ter uma mulher na flor dos seus 45 anos, porém saudável e esbanjando rigidez muscular, as custas de muita malhação e caminhadas, que odiava fazer, mas sabia que isso iria contribuir para que sua beleza da juventude não se perdesse na sua fase mais madura... seu marido, nem se preocupava tanto, mas ela também não se preocupava mais tanto com o marido, afinal ele já tinha lhe dado uma boa casa, uma boa vida, uma filha, apesar de não ter sido idéia dela, mas afinal se acostumou ao título honroso de mãe, ela estava apreensiva pelos mesmos motivos de sua filha, mas ia além, afinal era um casamento de poderio monetário também com a família dele, um casamento tão bem construído se perguntava se iria dar certo, pelo menos que sobrivivesse ao primeiro filho.
Enquanto ia, lembrava que enquanto esperava o seu futuro chefe, tinha visto um rapaz muito polido e sorridente, dizendo algo para a moça, ela o olhou, deu-lhe um sorriso bem menos administrativo e logo viu alguém o atendendo com muita polidez, parece ter ouvido falar em cadilac branco, embora não tenha visto nenhum, mas não queria mais pensar nisso, ia ver seu amigo e aproveitar o último dia de vagabundisse como gostava de pensar.
Havia um tumulto qualquer, em frente a padaria que ele ia.
A polícia estava lá, e a situação não era fácil, afinal tinha uma senhora e seu vestido de primavera que eram reféns, presa somente pelo medo de um cano ainda quente de uma arma, todos sentiam estar assistindo um filme de ação.
Uma padaria lotada, logo sendo esvaziada aos tropeções, o resto do comando policial chegando, alguém tinha lembrado de registrar tudo pelo celular, um outro de ligar diretamente para uma emissora de tv, que parecia estar do lado, só esperando acontecer a ação, tão logo apareceu.
A polícia estava naquele momento sem ação, esperando o melhor momento para atacar, não seria tão difícil, afinal o criminoso estava nervoso, iria cometer um erro fatal a qualquer momento, via-se que não estava acostumado ao acontecido, era só um assalto que tinha dado errado, e que por isso tinha matado um cidadão, por isso ele estava com uma refém, na flor dos seus 60 anos, para negociar.
Acenou um homem de farda, demonstrando toda a segurança que não tinha, as pessoas que ainda estavam lá para sair, mas os curiosos tinham fechado inconscientemente a saída da padaria.
A ação estava suspensa, como se fica quando se mergulha sem equipamento e se fica sem ar, inerte, nada se ouve abaixo das águas, mas a pressão é constante.
A polícia tentava abrir, com consentimento do meliante, espaço para os não envolvidos poderem voltarem as suas casas sãos e salvos, com isso ele poderia ter uma pena mais abrandada, conseguiram um primeito passo pra uma negociação.
Enfim, padaria só com os dois, senhora e meliante.
Mas claro, que não voltaram para suas casas, a curiosidade humana é incontrolável.
Por fim ele chegou, estava descendo as escadas, tão imponente que era, parecia estar descendo sozinho, por trás vinha uma jovem senhora, com um leve problema de joelho que o conduzia ao que parecia ser a jovem mais sorridente que existia, sorriso, que qualquer comercial de creme dental exploraria ao máximo.
A mãe se lembrou do próprio casamento, da inveja que encurtiu nas amigas, quando apareceu com aquele branco fabuloso, como falava sua amiga, naquela ocasião.
Houve uma explosão de aplausos, era como se um astro estivesse diante dos olhos daquela moça, o jovem aprendiz, chegou até a soltar uma lágrima solitária na pele escura e bem tratada que tinha, tão emiocionado que ficou, mas também não era para menos, a ex-modelo e atual dona da loja, estava explicando os pormenores do vestido.
Parecia que a essa altura só outra jovem senhora com um pretinho básico, ouvia.
Ele vinha com pedras, e flores levemente coloridas chovidas ao longo do vestido, bem delicadamente caindo por ele todo e parecia se fixando em toda a sua barra, que trazia uma saia bem rodada, digna dos de contos de fadas, e ostentava uma leve calda, tinha pedras parecidas com brilhantes, que se grudavam em todo o corpo do vestido se fixando principalmente no decote ousado para uma noiva que deixava os ombros nus, caindo maliciosamente pelo braço, Enfim tudo se havia resolvido, véu, vestido, e até sapatos... afinal tudo certo, estava levando uma caixa tão bonita quanto o próprio vestido.
Todos estavam nervosos.
Quem assistia, polícia, transeuntes, repórteres, todos, o homem parecia agora um louco, disse que queria um carro para poder fugir, era aquele momento que se tem quando se está embaixo dágua, pressão constante.
Um rapaz achou mais prudente, ir a casa do seu amigo, e depois descer com tudo mais calmo, que não sabia quando seria, mas uma moça muito atraente, atraiu sua atenção, era uma repórter voraz, que percebeu que ele estava lá, e pediu a ele, com avidez nos olhos todas as informações, que ele não tinha com exatidão, as lacunas, como ele pôde perceber ela mesma as preenchia, com uma emotividade digna de uma escritora, parecia quase feliz por tão plena ação estar acontecendo ali.
Alegre, aquela moça chegou em casa, saltitante, sonhava já com a semana seguinte, tudo pronto, cabaleireiro, massagem, ofurô, tratamento de pele, tudo a que tinha direito uma noiva.
Pediram aquela doce empregada um suco, a mãe que queria ver as noticias, resolveu ir ao seu quarto ligar a tv, enquanto a filha ficou lá na cozinha, vendo por acaso o mesmo canal, mas não assisitindo nada, estava tentando invejar a empregada que a olhava com olhos de criança deslumbrada a sua história, sua mãe, enquanto esperava o suco e se trocava, via uma senhora com muitos quilos a mais, com vestido perdido em muitas flores, colorido demais para a ocasião, a tv mostrou um rapaz, suando frio, disse ele que tudo o que viu.
De repente uma moça pálida e sem forças, despenca de uma cadeira, sem voz, sem ouvidos, parecia até mesmo sem alma, a empregada lhe trouxe água com açúcar, uma mãe desesperada desce os degraus da escada daquela casa com a rapidez de quem foge de um incêndio.
Havia um vestido caído no chão, servindo de colchão para uma jovem em total desespero, sem ação, olhando vitralmente o mundo dela todo cair em um único instante.
Ele sempre fazia aquele caminho, em frente aquela padaria, costumava até comprar uns sonhos que dizia ali seriam os melhores, naquele dia, estava se vangloriando com um amigo, que tinha convidado para almoçar, para comemorar o negócio que tinha acabado de fechar, um audi branco que havia comprado, e lembrava da “delícia” que o atendera, até sentia um certo prazer ao se lembrar dela, depois lembrava que era noivo, e tentava se acalmar, nem sempre com êxito, afinal ela era mesmo maravilhosa.
Havia uma noiva em cima de um vestido, perdido, uma mãe em prantos, um rapaz falando sem parar do que viveu ali na padaria, uma senhora, com quase 99 de pressão arterial, um rapaz que acabava de acordar que morava ali perto, e que ia receber uma visita, e um morto, perdido em seus sonhos com uma recepcionista, e um casamento que não queria, um meliante, que como um deus, conduzia todos os bonecos daquela cena.
Houve uma invasão de uma padaria, um tiro, um corpo caiu pesado, um rapaz que concedia uma entrevista, acertado com uma bala perdida, não se sabe se legal ou ilegal, no chão, uma repórter assustada, mas registrando o infortúnio, já saindo de perto, outros tiros, um meliante finalmente atingido e preso, uma senhora liberta, indo para um hospital perto dali, junto com um infeliz rapaz.
Aquele rapaz, atingido, pensou no seu amigo, nos pães que não comprou, no emprego ainda cheirando a fresco, na moça de sorriso administrativo, tudo vinha rodando em sua cabeça em um espiral, que se pudesse ser visto, seria até bonito, pela mistura das cores de cada momento.
Havia, apesar do sol, um inverno dentro de todos que continuavam ali, agora tentando voltar para suas casas, e para suas vidas.
Tudo o que descobriram é que um jovem rapaz que parecia ter reagido a um assalto, tinha morrido, haviam descoberto a identidade dele, e que que ia se casar dali a alguns dias.
Agora, perdido em sangue.
A polícia, fazendo seu trabalho, tentando arrumar a confusão, os repórteres fazendo o seu, entrevistando e coletando informações e repassando da forma mais emotiva possível.
Uma empregada, bebendo ela a água com açucar, uma mãe, tentando em vão acudr a filha, que já não tinha mais como acudir... e uma noiva... hirta, sem nada pra pensar, nem fazer.
Um salão que sabia teria vários serviços, de uma única cliente, seria cancelado... e um padre, que sabia, não ia mais casar ninguém, naquele dia!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Segunda-feira

Era uma segunda-feira.
Cansado aquele segurança já pegava a sua segunda condução.
Ia voltar pra casa... E ainda era quase seis da manhã.
A alegria dele era saber que iria chegar em casa, encontrar a esposa e filhas, tomar café com elas e dormir o sono dos justus, até pegar o outro serviço, no shopping ao meio-dia.
O sono estava tomando conta dele, talvez pelo fato de guardar um banco durante horas a fio...só olhando, vigiando, atento... em pé... talvez porque depois ele teria outra jornada.
Ele bem que gostaria que não fosse assim, mas com duas filhas pequenas, a mulher desempregada, ele não poderia se dar ao luxo de dormir, ele era como um tubarão, como gostava de dizer, não poderia parar de nadar, ou afundadria e morreria.
O metrô já estava começando lotar, ele se sentou, tomando o cuidado de não se sentar em nelhum banco demarcado para casos especiais, sentou então na parte do banco perto da janela, longe do corredor e da confusão,onde aliás sempre sentava, como só ia descer na última estação, podia dormir um pouco...
Enfim, adormeceu.
Fato aliás muito corriqueiro, em uma cidade que não pára um minuto sequer, onde poucos dormem pouco e muitos praticamente não dormem, é de fato uma cena corriqueira e comum, não fosse ele ter dormido com os pés na cadeira da frente.
O vagão ia enchendo...
Um senhor entra brigando e esbravejando com um garoto, dizendo que tinha sido empurrado por ele, depois de algum nervosismo, a confusão logo é resolvida, mas aquele mesmo senhor muda a expressão de novo quando vai se sentar e se depara com os pés de um dorminhoco. Ele grita, esbraveja; o homem abre os olhos, furioso por ter acordado, só sua mulher conseguia fazer tal ação sem ter maiores conseqüências, ele respirou fundo, se arrumou na cadeira e tirou os pés do banco. Aquele senhor meio vermelhudo e com cara de quem está zangado com a vida e mais alguém, finalmente pôde descansar seu esqueleto já cansado de tanta vida (como ele gostava tanto de mencionar), mas ainda ralhou qualquer coisa inaldível.
Ainda faltavam sete estações, então ele se pôs a dormir, que naquele momento era o melhor que ele fazia.
O vagão foi enchendo.
Lá pela décima segunda estação, entrou outra legião de pessoas apressadas, e querendo sair logo, no meio dessa gente, uma moça carregando uma barriga que parecia que ia dar a luz a qualquer momento, olhou... olhou e nada, nehum lugar que já não estivesse ocupado por quem de direito, ela estava cansada de tanto andar, com uma sacola cheia de coisas, pesada tanto quanto sua barriga, quando viu aquele cidadão dormindo, ou quem sabe, até mesmo fingindo dormir para não sair dali, ela jogou todo o peso daquela sacola enorme naquela canela, que sentiu uma de suas maiores dores. Um caso de engenharia, o fato de estando ele na cadeira da janela, ela ter conseguido atingi-lo, mas pessoas com intensões fortes, são capazes das mais audazes ações, não sem ajuda é claro.
O homem abriu os olhos, não com raiva, mas com ira...ódio, pela segunda vez o acordaram, levantou os olhos, vermelhos de sono e ia se levantar, afinal ele podia aguentar o resto da viagem a pé, só faltavam três estações para finalmente ver sua esposa, filhas... o café... o sono até ao meio-dia!...
Muito solenemente fez o movimento típico de quem ia se levantar, mas caiu uma moeda que ele foi claro, pegar, para facilitar esse trabalho permaneceu sentado.
A mulher grávida e com raiva olhou aquela cena de falta de respeito, não agüentou, gritou, esbravejou, ironizou, insultou sua mãe...
Ele olhou calado.
Pegou naquele braço cansado de tanto ter carregado aquela sacola, pegou mais forte do que ela podia suportar, e pediu educadamente em voz suave, que não falasse mal de sua mãe, que isso ele não podia agüentar, jogou o braço dela, explicou que só foi pegar uma moeda que tinha caído, que já ia se levantar, ela não acreditou, continuou falando, agora ironizando novamente o cidadão, o senhor que estava do lado, se levantou oferecendo o lugar que era já demarcado, a mulher negou, furiosa, disse que aquilo já não era mais questão de lugar, era questão de respeito, e falta de respeito era coisa que não podia aceitar, e que ele tinha que aprender...
A confusão foi aumentando, e todos concordavam com o que ela dizia, sem saber a exata dimensão das coisas, e agora todo o vagão falava, todo o vagão brigava sem saber exato o porquê, ela ficou animada, continuou falando, e o homem que ia se levantar, continuou sentado.
Ficou calado.
Ouvindo o que a mulher dizia...Os olhos dele ficavam mais vermelhos, mas não era mais de sono, agora era raiva, ódio, e ela ia falando...Em certo momento ela percebeu a aliança na mão esquerda e num jogo astuto, colocou sua esposa, como vítima, e ele na condição de carrasco, batia na mulher e sabe-se lá quantas atrocidades mais, e que os filhos dele, se tivesse, deveriam ser todos revoltados,e que tinha uma evidência de todos esses mal-tratos, bastava olhar pros olhos dele.
Todos concordavam, a confusão já estava generalizada, não se sabia quem tinha começado o quê, o que se sabia era que seja lá o que fosse, ele com certeza aquele sujeito era o culpado, e ela continuava, apoiada por aquele senhor vermelhudo e cansado de tanta vida.
Ela continuou a contar (na versão dela) a história da vida dele, da mulher...
As ofensas foram crescendo em relação à mulher dele... a família dela...
E o passageiro lá... Sentado... Só olhando...Em silêncio.
Do vagão vizinho ouve-se um tiro....
Súbito um silêncio.
Silêncio pesado, mórbido, durante eternos segundos.
Logo em seguida, todos afoitos querendo saber o que tinha havido, todos falavam, muitos gritavam, alguns até desmaiaram. Cai uma senhora e sua enorme barriga...Outro silêncio...Fato que teve seu império por alguns poucos segundos, e todos viram um garoto que há algumas estações atrás tinha sido acusado de empurrar um simpático velhinho, estava caído, e todo o sangue de sua existência vertendo dele, aquela mulher acordou, levantou-se devagar, finalmente se calou.
Assustada com aquele cidadão e por estar ainda viva... olhou para ele, sabia que aquilo era pra ela, olhou para o chão e sem que ninguém visse suspirou fundo, quase como um sorriso...
Não distante, todo o absurdo do mundo pousou como avião sem freios nos olhos daquele senhor, que por um instante olhou pra cima, e agradeceu a Deus a dádiva concedida.
Uma arma, fumegante, olhava para o garoto, sem nenhuma admiração, talvez porque isso seja comum para uma arma, o homem olhava com olhar petrificado para o garoto, sem forças nas mãos como também em todo corpo, deixou a arma cair, caindo ele em seguida de joelhos, olhou pra cima, viu a mulher, o senhor, todos dali. Os passageiros sabiam do que acabaram de escapar, e sentiam a imensa alegria de estar ali, vivos, por mais um dia... Uma grávida, muda pelo momento, soltou toda a voz que tinha em sua garganta num grito estridente e confuso, que, como em uma sinfonia, foi seguido de outros, amedrontados... e outro, e outro...
Alguém puxou a alavanca para parar o trem....Nada é dito nos fones espalhados no teto do metrô, mas percebe-se até pela vibração do solo os movimentos dos guardas do metrô, estavam a caminho.
A uma estação da que ele ia descer, o vagão parou, os guardas, em grande alvoroço vieram, a mulher disse que ele tinha dado vários tiros no garoto, a verdade, foi um só, mas talvez ela estivesse nervosa e tivesse perdido a conta, talvez todos daquele vagão estivessem nervosos, porque todos, ouviram vários disparos, até mesmo aquele senhor, mas vários disparos ou um só, não fazia muita diferença, o fato era o próprio fato em si, e nada poderia mudar isso.Para aquele trabalhador, que ia voltando para sua casa, num momento longo, tudo ficou mudo, ele via gestos, adivinhava falas, mas não ouvia nada, só pensava, só lembrava, enquanto era levado pelos seguranças que o levavam como se ele tivesse em si uma bomba, ele não olhava para ninguém, não falava, não chorava, só pensava... Uma esposa, esperava o marido, que já deveria ter chego a uma hora, com certeza, era a tão anunciada operação tartaruga que os funcionários do metrô tencionavam fazer, esperou então despreocupada, e arrumando uma das meninas pra escola....Assim, só pra saber se era mesmo por culpa do metrô o atrazo do marido, ligou a televisão, enquanto penteava o cabelo da menina...
Uma criança de mais ou menos 5 anos, acorda com um grito desesperado de uma mãe...
Ela tinha acabado de descobrir pelo jornal, que naquela manhã pesada de segunda-feira, ela não precisaria fazer o café tão cedo.
Que aliás, não precisaria fazer o café da manhã tão cedo, por muitas segundas-feiras.

FIM